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[ATIVOS TURÍSTICOS CULTURAIS DA ILHA DO PICO]

Ciclo da Baleação

Em 28 de Abril de 1876 foi estabelecida a primeira armação baleeira na Ilha do Pico, na freguesia da Calheta de Nesquim, através de um contrato escrito entre a família Dabney (Faial) e o Capitão Anselmo Silveira.

Segue-se a freguesia de São João, pertencente à família Lemos da freguesia de São Mateus e à família Maciel da freguesia de São João (tinha 2 botes e caldeiras de derretimento), cujas instalações terrestres foram destruídas pelo ciclone de 28.08.1893, tendo encerrado a atividade e os botes vendidos às armações da Vila das Lajes.

Em 1897 existiam, na Vila das Lajes, 6 companhias baleeiras, sociedades irregulares que funcionavam em nome dos respetivos gerentes.

No início do séc. XX é publicada legislação para regulamentação da atividade baleeira dando origem à legalização das sociedades existentes.

Na freguesia das Ribeiras existiram 3 armações baleeiras: Companhia Baleeira Americana, Companhia Nova Ribeirense e Companhia União Ribeirense, tendo sido um dos mais importantes centros de baleação.

A faina baleeira durou cerca de século e meio e encerrou definitivamente em 1987 por causa das moratórias ambientalistas internacionais.

Os baleeiros eram agricultores durante todo o ano e dedicavam-se à caça à baleia nos meses de passagem de cachalotes.

A passagem dos cachalotes era sinalizada pelo “Vigia”, pelo soprar de um búzio ou o lançamento de 1 foguete. Os homens corriam para o porto, recebendo o farnel pelo caminho, arreando os botes, sem saber quando e se voltavam. Depois de ultrapassar as ondas da costa, os botes, com 7 homens começam a deslizar. Quando os cachalotes mudavam de rumo, o “Vigia” retirava a bandeira; os botes começavam a deslocar-se em círculo até que o “Vigia” voltasse a hastear a bandeira, indicando o rumo certo para avançar.

A técnica consistia em aproximarem-se do cachalote, sem ruído, sendo a tarefa mais difícil a do "trancador” ou "arpoador” o qual vai à proa, de arpão em punho, aguardando a ordem do mestre para atingir o cachalote num sítio crucial Depois de arpoado, o animal sangrava até à morte. Nesta fase podia reagir violentamente e arrastar os botes para o fundo, uma vez que o bote continuava preso ao cachalote, através da linha, que se encontrava dentro de 2 selhas, muito bem enrolada.

Depois da captura a baleia era rebocada até uma das fábricas onde era esquartejada para produção de óleos e farinhas; separavam as cabeças dos corpos e esvaziavam o líquido precioso – espermacete – que enchia baldes, selhas, latas – trabalho nauseabundo.

Inicialmente o processo de desmancha era feito de forma artesanal, pelos próprios baleeiros, através do método de fogo direto em típicos “traiols” – “trabalho de escravos”.

A partir de 1930 surgem as fábricas e a industrialização. Em 1942 foi fundada, em São Roque, a Fábrica das Armações Baleeiras Reunidas, da união entre a Companhia Velha Baleeira, Lda. A Armação Baleeira do Livramento, Lda., e a Armação Baleeira Atlântica, Lda.

Em 1955, a Sociedade de Indústria Baleeira Insular, Lda. – SIBIL, nas Lajes do Pico inicia a sua laboração; constitui-se, a partir da fusão de 10 sociedades baleeiras: 3 sediadas em Santa Cruz das Ribeiras e 7 das Lajes

Hoje a tradição baleeira perpetua-se com as Regatas de Botes Baleeiros, o Whalewatching e os monumentos e museus.

Curiosidade/Histórias/Lendas :

Aquando da visita régia à Cidade da Horta, em 28.06.1901, os reis D. Carlos e D. Amélia foram recebidos por uma esquadrilha de botes baleeiros, a remos, que contornaram o navio onde estes se encontravam e o acompanharam ao ancoradouro. No dia seguinte houve regatas, à vela e a remos, de botes baleeiros e embarcações de recreio. Sabe-se que participaram 2 botes das Lajes do Pico, pertencentes às companhias das “Senhoras” e “Judeus”. O Rei, muito satisfeito com a homenagem dos baleeiros, veio a oferecer, às armações proprietárias dos 2 botes vencedores, um bote baleeiro.

Conta-se que um dia foi avistada baleia. Os homens arrearam a vela e o trancador deu-lhe com o arpão, mas a baleia ferida, mergulhou. O trancador vendo que esta lhe fugia, laçou a corda ao tronco, deixando-se arrastar pelo mar. Os outros ficaram aterrados, recompuseram-se para procurar o colega. Não o vendo, voltaram para terra e contaram à família, chorando toda a noite a coragem do homem. No dia seguinte, os homens voltaram ao mar à procura do corpo. Inesperadamente, viram ao longe um negrume: era o baleeiro de pé sobre a baleia morta, encostado ao arpão, fumando um cigarro: “Agora é que chegam?”