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[ATIVOS TURÍSTICOS CULTURAIS DA ILHA DO PICO]

Ciclo do Vinho e da Aguardente

A cultura da vinha é contemporânea da chegada dos primeiros povoadores, no século XV, sendo atribuída a Frei Pedro Gigante, pároco da única comunidade – Vila das Lajes – a aquisição de bacelos importados.

Durante o século XVII, a colocação dos excedentes de vinho e aguardente do Pico, em praças do Novo Mundo – Brasil, Antilhas e América do Norte – motiva um surto de florescimento que localmente dita, no Pico, em 1723, a criação do Concelho da Madalena (a associação de fatores políticos, sociais e económicos) e no Faial, a emergência do porto da Horta, enquanto escala da navegação comercial ultramarina e internacional. O vinho do Pico era comercializado via Horta.

A exportação do Verdelho do Pico pelo porto da Horta era fundamental para a economia destas ilhas e dos Açores: para além do impacto na mão-de-obra e os lucros em benefício dos maiores proprietários e mercadores residentes no Faial, a enorme expressão que as rendas cobradas na Alfândega da Horta representavam para a Real Fazenda, com sede em Angra e os fundos envolvidos nas transações efetuadas, eram muito relevantes, como se depreende do processo de amortização da dívida, contraída por Portugal, em 1809, junto da corte de Londres, com grande contributo da Fazenda dos Açores.

O risco da deterioração dos vinhos e a pressão da procura brasileira determinaram o fabrico de muita aguardente. Apesar de algumas dificuldades de comercialização, fruto dos excessos da destilação, a aguardente ressalta muitas vezes como a mercadoria insular de maior crédito. No outono de 1768, por exemplo, no Faial, o elenco camarário, reúne a nobreza, os comerciantes e os lavradores, movido pelo propósito de fixação do preço mais justo, em virtude da relevância da aguardente. Na segunda metade do século XIX, com a chegada do Oídio e da Filoxera, a queda dos rendimentos levou os viticultores a usar a casta americana Isabela, produzindo um vinho de qualidade inferior – vinho de cheiro, e a intensificar a produção e Aguardente.

A cultura da vinha foi sendo substituída pela figueira e o pessegueiro, para a produção de Aguardente. Em 1889 existiam 34 alambiques no Concelho da Madalena, que utilizavam bagaço, pêssego e figos. Estes últimos sobretudo entre os lugares do Cais do Mourato e Cabrito.

No início do século XVII, a família faialense Brum da Silveira, possuía vinhas e 2 alambiques na Ilha do Pico, um nos Fogos – Candelária e o outro no Cais do Mourato – Madalena. Por depoimentos orais e ruínas existentes terá havido 38 alambiques no Concelho da Madalena: Bandeiras – 8; Madalena – 2; Criação Velha – 7; Candelária – 16; São Mateus – 2; São Caetano – 3, todos tradicionais (possuindo uma fornalha com caldeira onde se deitava a matéria prima para destilar, coberta por um capacete, com um braço que se ligava à serpentina) exceto um nas Bandeiras de lentilhas ou pratos. Em 1949 é criada a Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico, recebendo uvas pela primeira vez em 1961. A vitivinicultura começa então a recuperar.

Em 2004, a UNESCO classifica a Paisagem Protegida da Cultura da Vinha do Pico como Património Cultural da Humanidade. Esta paisagem ocupa uma área total de 154,4ha, envolvida por uma zona tampão de 2445,3ha e é composta por 2 núcleos – Lajidos da Criação Velha e de Santa Luzia – de elevado valor patrimonial. Ao todo são cerca de 120km2, que se edificaram em pedra seca.

O ordenamento do território obedeceu às exigências da cultura e ao conforto dos proprietários. Havia que atender ao rendimento da produção, ao transporte, à armazenagem e escoamento das uvas e do vinho. As vinhas eram defendidas por paredes de pedra (para proteção contra o vento e a maresia), e conforme a dimensão, dividiam-se em mais ou menos jeirões, separados por muros, junto aos quais corriam veredas transversais – servidões – em que desembocavam as canadas. Duas paredes baixas e paralelas, distando entre si 2 ou 3m, que se desenvolvem de ponta a ponta da vinha ou de cada um dos seus jeirões e são intercetadas perpendicularmente, a intervalos de uma meia dúzia de metros, por outras idênticas que se chamam “traveses”, formando uma sequência de retângulos – os currais. De curral para curral progride-se através de exíguas passagens, as bocainas, desencontradas à direita e à esquerda para impedir a livre circulação do vento.

Lateralmente, as canadas não comunicam entre si, pelo que as tarefas processam-se subindo e descendo a imediata e assim sucessivamente O rude solo de basalto dificultava as viradas que podiam atingir uma profundidade de 1m.

Fende-se a camada de rocha para permitir o alongamento das raízes através das fendas, mas também para facilitar a penetração do ar.

Os instrumentos utilizados nas viradas eram: o pique, o foicinho, a luva, o machado, a barra, o malho, a corrente, as cunhas, o alvião e o cesto das viradas .